Sofrimento social nas suas variadas manifestações: exclusão social, pobreza (visível e envergonhada) e - de forma que nos envolve directamente, como empresários e gestores que somos – o desemprego.
O desemprego, como bem sabemos, atinge hoje em dia proporções alarmantes na sociedade portuguesa, não constando nas previsões da generalidade dos economistas que, nos tempos mais próximos, venha a conhecer melhorias – bem pelo contrário.
Nesta sua preocupação pelo sofrimento social dos portugueses, tem a ACEGE, através dos seus núcleos e das mais diversas actividades, insistentemente lembrado pelo país inteiro os objectivos primordiais que enformam a missão não só dos empresários e gestores cristãos, mas de todos os empresários de boa fé.
De entre esses objectivos cumpre destacar os seguintes:
- o objectivo primordial da economia é o Bem Comum, por conseguinte, não é o Homem que serve a economia, é a economia que serve o Homem
- o objectivo primordial do empresário e do gestor é a excelência na gestão em obediência a um imperativo ético, pois só fazendo bem se faz o bem.
Não podendo ambicionar a resolução do problema do desemprego na sua globalidade, sentiu a ACEGE, todavia, a necessidade de passar da palavra aos actos, levando a cabo uma iniciativa que não só contribua para atenuar a gravidade do problema, como possa, por contágio, propagar a todo os líderes empresariais e às empresas que lideram a urgência inadiável do combate à chaga social do desemprego.
E nesse sentido, promoveu a constituição de um fundo de capital de risco, sugestivamente denominado de Fundo Bem Comum, destinado a promover e financiar projectos de empreendedorismo liderados por quadros qualificados desempregados com mais de quarenta anos de idade.
Qual a razão de tão específico objectivo?
Sem dúvida, a perplexidade perante uma das maiores contradições da sociedade actual, qual seja a de ser cada vez maior a expectativa de vida fisiológica de homens e mulheres, e ser cada vez menor a expectativa da sua vida profissional.
Vive-se hoje cerca de oitenta anos e, inexplicavelmente, se alguém for despedido com quarenta anos – nem é preciso mais - certamente terá a maior dificuldade em arranjar novo emprego.
Com tudo o que isto significa de dramático em termos pessoais e familiares e, não menos significativo, com o que em termos económicos representa de delapidação de valiosos recursos humanos.
E essa é a mensagem principal desta iniciativa: por um lado impedir que pessoas com tanto para dar à nossa economia sejam desaproveitadas e esquecidas, e por outro desafiar quantos caiam no desemprego a recusar pôr um ponto final na sua vida profissional.
A missão de fundo
Estruturado pela Mckinsey, a quem a ACEGE não pode deixar de dirigir um agradecimento especial, foi o projecto incentivado por 5 instituições – o Grupo José de Mello, a Caixa Geral dos Depósitos, o Banco Espírito Santo, o Banco Santander Totta e o Montepio Geral – que, partilhando por inteiro com a ACEGE a importância da iniciativa, decidiram nela participar, investindo em partes iguais no capital do fundo, que monta a 2,5 M€.
Pese embora a natureza social do fundo, acordou-se desde a primeira hora que a gestão se guie por um rigor equivalente ao das melhores práticas financeiras, sem margem para cedências a impulsos caritativos ou de favor.
Só com este rigor se poderá, aliás, atingir a missão do fundo, nos seus três objectivos principais:
- a pedagogia do emprego, estimulando desempregados com experiência profissional a desenvolver projectos empresariais
- a criação de emprego, apoiando os melhores projectos de capazes de garantir a criação sustentável de postos de trabalho
- a criação de valor, garantindo a sustentabilidade do projecto, e com ela a remuneração adequada do capital investido
Descrevendo de forma sintética o modelo de gestão, o fundo será gerido por uma sociedade gestora especialmente criada para o efeito – a BEM COMUM – Sociedade de Capital de Risco, S.A. – competindo a sua coordenação a um Conselho de Administração, no qual estão representados quer a ACEGE quer os investidores accionistas.
Apoiando directamente o Conselho de Administração, as tarefas de avaliação preliminar e aprovação final dos projectos caberão a um Conselho de Investimento, onde estão representados todos os investidores, órgão presidido pelo Engº João Talone – a quem a ACEGE deve também um agradecimento pela colaboração que tem dado ao projecto desde o seu início.
Para todas as restantes e também muito importantes tarefas – da selecção das propostas à avaliação dos candidatos, da formação dos promotores à monitorização dos projectos, do apoio especializado na gestão ao acompanhamento personalizado dos promotores e dos projectos – conta ainda o Conselho de Administração com três apoios da maior relevância:
- primeiro, a alavancagem de um Conselho de Orientadores, composto por associados experientes da ACEGE, que se disponibilizaram sem custos para a execução das tarefas de selecção e avaliação das candidaturas e de coaching dos promotores e dos projectos
- segundo apoio, a parceria, também sem custos, com empresas e entidades a quem a ACEGE não quer deixar de manifestar o seu agradecimento:
. a MLGTS & Associados na área jurídica
. o VER na área da comunicação
. a Partners na área da imagem
. a KPMG e a Moore Stephens na área da auditoria
. a Dynargie na área da formação
- terceiro, a cooperação como co-investidor da Inov Capital
Plataforma de aconselhamento
O projecto não vai, contudo, esgotar-se no financiamento de, numa primeira fase, uma dezena, uma dúzia de projectos empresariais - objectivo que já seria em si bastante meritório mas insuficiente face à dimensão e à gravidade do problema do desemprego sénior.
Daí que, a par da actividade própria do capital de risco, o Fundo Bem Comum esteja empenhado na constituição de uma plataforma de aconselhamento dos promotores que se nos dirijam com projectos que, embora não se enquadrando na estratégia traçada para o fundo, mereçam, contudo, o seu reencaminhamento para outras entidades eventualmente interessadas no seu financiamento.
De entre essas entidades dar-se-á óbvia preferência aos investidores do fundo, com os quais, aproveitando sinergias, iremos construir e desenvolver uma rede operacional de informação especializada na área do desemprego sénior.
Rede para a qual a ACEGE contará com a colaboração pro bono de associados seus como orientadores no aconselhamento de projectos de empreendedorismo.
Escusado será dizer que essa rede será posta à disposição de todas as entidades, mesmo não financeiras, que já se encontrem de qualquer outro modo envolvidas no combate ao desemprego sénior - ou que consigamos mobilizar para esse combate.
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